sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Escuro Silêncio


Escuro, escuro.
E quem vê? Não importa.
Nem eu me importava.

Pólvora. Facas. Assassinatos a sangue frio rolando soltos pelos dias.

É um filho que me mata, uma mãe que me afoga e diz que esqueceu, garotos mimados com tochas nas mãos e meu corpo, de tanto álccol, queima até acabar-se em pó, com alguma sorte, n´alguma calçada d´algum bairro rico do chão de mármore.

Silêncio, silêncio.
E quem ouve? Não importa.
Nem eu me importava.
E nem escutava.
Só calava.
Silêncio.

Eram assassinatos a sangue quente. Era por raiva, por besteiras ou por nada.

Era meus dedos no gatilho, a faca em minhas mãos ou a grana no meu bolso pra encomendar a morte daquele tal.

Se tú me cagueta, tú morre!
Se tú me entrega, eu faço faculdade, viro chefe e te mando pro inferno, lá da prisão.

E eu nem me importo.
Nem me importava.

Eram prostitutas, coitadas, açoitadas por quilômetros até o fim da vida, mas não da viagem. Eram filhos morrendo na frente dos pais, dizendo o último adeus com os olhos lacrimejados de morrerem tão cedo. Eram pais morrendo na frente dos filhos. Filhos que nunca vão acreditar no poder daqueles projéteis atravessando a testa dos velhos. Filhos, apenas crianças, coitados. E eram também crianças arrastadas por carros por quilômetros, conhecendo o fim da viagem muito antes de qualquer começo.

E quem sabe? Não importa.
Nem eu me importava.
Não mesmo.

Mas agora... agora que me bateu o desatino de querer saber de alguma coisa, não adianta nada. Não dá mais tempo nesse escuro, nesse silêncio...
Já fui acalentado pela morte...

Já fui acalentado por facas, balas, asfalto, facas, mãos, fome, fadiga, vírus, raiva, desdém, esquecimentos, exclusões, desculpas.

Já fui acalentado pela morte... precoce e pueril surpresa.

Talvez vocês.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Maravilhoso!como você!

segunda-feira, fevereiro 26, 2007 2:14:00 PM  

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