sexta-feira, junho 05, 2009

Palavrório


Olha, escuta, bem sei que não era pra estarmos aqui. E sei bem que, estando aqui, não era pra estarmos do jeito que estamos. Que jeito? Esse, assim como estamos. É que eu não sei como dizer. Aliás, nem sei bem o que dizer. Nós aqui, nós todos, e eu sem palavras. Puxa, que coisa. É estranho. Então... digam alguma coisa. O quê? Não têm nada a dizer? Não? E eu, incomodo? Não? Que bom. Então, como ia dizendo... O que eu dizia mesmo? Nada? Estava enrolando? Acho que eu não sabia o que dizer. Isso! Isso mesmo, dizia exatamente isso. Que não sabia o que dizer! Que engraçado. Espero não estar sendo, neste momento, né?, muito repetitivo. Mas... na verdade... acho que já sei. Necessito alguns segundos.

Desculpem-me pela demora. É que, quando saí, lembrei-me que estava na hora do meu cigarro, o doutor nunca que me perdoaria. Então necessitei minutos.

Ainda bem que continuam aí, todos calados. Será que ainda bem? Ficarmos aqui quietos, contando nas batidas do coração os segundos, minutos, horas, dias, meses e anos e vidas inteiras? Será? Ah, sim! Melhor assim do que se complicar, não é? Fiquemos quietos, então.

...

Queria saber se esse silêncio incomoda mesmo tanto quanto parece. Na verdade, é até confortável, não é? E por que eu não me calo? Não sei.

...

É que não me calo justamente por que não sei se é tão confortável assim. Seus olhares silenciosos já disseram muito mais do que já tentei verbalizar, todo esse palavrório. É, tenho medo de calar a boca e de dizer exatamente o que tem de ser dito com meus olhos, e daí? Meus olhos fogem, não encaram, agradecem quando enxergam imagens que não são agressivas como a maioria, e insistem sempre em serem dispersos. O quê? Nada é tão agressivo assim como penso? Gostaria de saber disso. O quê? E meus olhares também falam? O quanto eles falam? Muito mais do que imagino? Desgraçados delatores. Já que é assim, o melhor é calar-me.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Estimado Mafra. Há olhares que falam mais que mil palavras jogadas ao ar. Calar? nunca. Um olhar gelado, lançado na hora certa, diz muito. E eu nem sabia que você escreve, nunca me contaram. É estranho...

sábado, janeiro 16, 2010 11:37:00 AM  

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