terça-feira, outubro 03, 2006

Entrevista – Teste para personagem



- O que você vê no mundo?
- Pôxa, cara. Eu vejo essas coisas que aparecem por aí... Terremotos, aviões que caem, maremotos. Cara, eu adoro tsunamis... aquelas ondas enormes vindo pra praia... só não tenho coragem de dropar! Vejo também sabe o quê? Batida de carro e tudo. Eu não sou trágico, não. É que eu gosto de ação, sabe cara. Fazer alguma coisa bem radical, pular de pára-quedas...
- Você acha radical pular de pára-quedas?
- Orra, se não! Vou te falar, deve ser uma puta duma vibração legal que a gente sente lá em cima (olhando pra cima, pro teto), sair voando assim igual os pássaros.
- No caso, você não estaria voando, estaria caindo. E apenas pássaros mortos caem, como quando eles morrem de ataque cardíaco.
- Pôxa, cara, você é que é trágico.
- Você já viu um pássaro morrendo de ataque cardíaco?
- Nunca vi, mas deve ser perigoso!
- É muito perigoso. E se eu te pedisse pra fazer um papel desses... por exemplo, morrer durante uma queda de pára-quedas?
- De ataque cardíaco?
- Pode ser, embora eu possa pensar em algo mais original.
- Posso fazer, estou aqui pro que der e vier.
- Mas, nesse caso, seria sua primeira e última, como posso dizer... cena, participação? Isso! Seria sua primeira e última participação. E além disso seria como coadjuvante de outra história, e a atenção dispensada para o seu papel não seria mais que duas, três linhas... Nesse caso, o que você me diz?
- Pôxa, desse jeito não dá! Que porcaria de história é essa?
- Fala sobre pássaros.
- Pássaros? E você quer que eu morra no ar numa história de pássaros?
- Pode ser.
- Acho que tenho capacidade para mais que isso, além do quê, meus talentos não podem ser desperdiçados em troca de um simples capricho numa história.
- Não seria um simples capricho. Na verdade você cairia na cabeça do irmão bastardo do personagem principal. E a morte causada pela sua queda seria lembrada depois de umas quarenta ou cinqüenta páginas, reavivando no irmão, o herói do causo, a vontade de viver e realizar seus desejos. É pegar ou largar.
- Tudo bem, vai. Mas não é por causa dessa história de (imitando o escritor) “reavivar a vontade de viver do mocinho”.
- Sério?
- Tô falando, eu aceito, apesar de tudo...
- Mas, quer saber, acho que mudei de idéia.
- Do quê?
- Espera aí.
- Espera o quê?
- Espera aí. Deixa eu pensar.
- Pensar o quê? Não tá tudo certo?
- Ainda não.
- Era só o que faltava. Aproveita que você tá pensando e esquece essa história de pássaros. Faz uma história sobre pára-quedismo.
- Isso não, prefiro pássaros.
- Ai, ai, ai! “Prefiro pássaros, prefiro pássaros”. Você só pensa em pássaros?
- Na verdade, não. Acontece que tive essa idéia e não tenho motivo nenhum para desistir.
- Tá certo... que pássaros são?
- Periquitos australianos.


- Periquitos australianos? Você vai me colocar pra cair em cima de um periquito australiano? Que tolice é essa? Você deve estar brincando! Ora, bolas. Periquitos australianos! Por quê, periquitos australianos. Não poderia ser uma pomba, um avestruz ou uma história sobre PÁRA-QUEDISMO?
- Não. Será sobre periquitos australianos.
- Por quê?
- Um trauma de infância.
- Que tipo de roteiro é esse?
- Roteiro pra novelas.
- Novelas? É piada? Novelas?
- Não, não é piada.
- De onde é que você conhece novelas interpretadas por periquitos australianos?
- Não existe, essa é a coisa boa!
- Você é louco! Você não consegue se enxergar, não é? Primeiro você procura um personagem pra simplesmente cair de um avião...
- Não seria de um avião. Você cairia de um balão meteorológico.
- Balão meteorológico? O que eu estaria fazendo num balão meteorológico?
- Fazendo manutenção. Na verdade você estaria lá por engano. Alguém soltaria as cordas enquanto você estivesse fazendo a manutenção. Nem perceberia e pularia do balão, morrendo de ataque cardíaco logo em seguida.
- Era só o que me faltava... não... tudo bem... calma... Você procura um personagem pra simplesmente cair de um (imita o escritor) “balão meteorológico”, morrer durante a queda e cair na cabeça de um periquito australiano, irmão bastardo do personagem principal numa “NOVELA” sobre periquitos australianos? Periquitos australianos? Ora, bolas! (ironicamente) Eu sou o personagem ideal! IDEAL, tá ouvindo?
- Bom...
- Não, não, desculpa. Desculpa falar assim, foi só um momento de euforia... eu aceito sim, o lugar.
- Bom, sabe que você tem razão?
- Tenho?
- Claro, que idéia a minha de fazer você cair na cabeça de um periquito australiano...
- Tá vendo, entendeu?
- Vou matar esse periquito com um tiro. Um tiro de caçador. É , mais verosímil. Você pode ir embora. Próximo.
- Mas...
- Mas, mas, o quê? Pode sair, vai! Próximo, por favor, pode se aproximar...

4 Comments:

Blogger Alessandro said...

Depois vou ler essas linhas sobre periquitos australianos. Antes quero lhe dizer que vou lá no Gruta hoje. Você irá? Você lerá este comentário a tempo?

Tenho duas coisinhas visuais para o mural do Gruta e o sarau. Uma suave, que você conhece de post recente lá no Com Alma. Mas a outra... a outra é uma porrada. Quer dizer, eu acho que é uma porrada. Aguarde.

Abração!

terça-feira, outubro 03, 2006 6:08:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ei! Demorou mais colocou esse ai! bela entrevista, está bom pra ser roterista.... meu amor!
Biseaus
Minha

quarta-feira, outubro 04, 2006 9:51:00 AM  
Blogger SACANITAS said...

huahushausasass

ola rafa :)

pior q eh assim mesmo!!!

pessoas descartaveis x egotrips hehee

beijocas
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sexta-feira, outubro 06, 2006 11:13:00 PM  
Blogger SACANITAS said...

hum, sem novidades? :)

beijos
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terça-feira, outubro 10, 2006 10:18:00 PM  

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