quinta-feira, março 16, 2006

Madagascar

Este, junto com outros dois textos ("As Duas Mulhers" e "Resistência") formariam um trio falando sobre histórias de mulhers em vagões do metrô. Porém, creio que não vou usá-lo para isso. Outro mais adequado há de vir. Os outros dois logo serão publicados no "Antigos Textos", linkado aí do lado! Até logo!


Madagascar

Foi Madagascar quem me pediu. Era apenas uma garota, nada de território. Nome diferente pra uma garota, é certo, mas foi ela quem me pediu.
Madagascar era forte. Tinha nos olhos e na face aquela desafiadora disposição corrente nessa gente de pouco tato para os outros e, noutro extremo, desejos em demasia pra si.
Pediu que eu terminasse esse trio de histórias sobre mulheres com o título em seu nome. Sim, pediu, foi ela quem o fez. E sim, o fiz, não havia por que não. Tinha tanto ainda, meia hora, enquanto ela ia ali e voltava.
De acordo com a tentadora encomenda, tudo se passaria ali, num vagão do metrô.
Era história dela, bem singela, voltando assim da balada, como disse, bem chapada, sem nexo ou conexão ao mundo.
Vinha vendo, olhando, desejando, incessante, sem saber o quê direito, em atitudes fascinantes, intimando outros olhos a cada instante.
E fitava, fitava, e imaginava. Era cada situação intrigante, no mínimo interessante. E vinha com seus olhares tempestivos e constrangedores, dirigindo-se àqueles que ali estavam apenas como figurantes.
É, vinha sim! Vinha como vinha, como me pedira. E desejava, desejava, desejava...
Quantos não apreciaram a situação? Muitos, muitos deles, sim! Mas a ela, eram elas que interessavam. Mas delas nunca se pode afirmar nada. Quem é que sabe? De qualquer forma digo: daquelas, poucas não odiaram o caso. Pra ser mais exato, de acordo com a encomenda, apenas uma não reclamou. Pelo contrário, além disso, até admirou os olhares.
Porém, esta última, a admiradora, estava apenas ali no vagão como passageira. Não queria nada de mais numa simples terça-feira. Apenas admirou.
Madagascar ficou na vontade. Terminou a noite chorando. Pensou, chorou, pensou, na injustiça, que agonia(!), do universo. Por que, ora bolas, diabos, nada era como ela queria? Chorando, chorando, assentiu pra si mesma que não precisava realmente de tudo aquilo que desejava, além de um pouco de atenção. Pensou que não, não era necessário aparecer assim, daquele jeito, tão forte, correndo atrás de tudo pra conseguir o que queria. Ou o que, na verdade, nem queria. Chorando, chorando, até parar de chorar, tentou engolir o nó na garganta, mas já era tarde, muito tarde. Tornara-se uma fraca que mal segurava seus copos de lágrima nem pelo menos por dois segundos. Tornara-se um corpo fraco, pequeno, correndo com medo porta afora do vagão e descendo as escadarias da estação. Mal imaginava que direção tomar e sentou ali mesmo, na primeira sarjeta que viu, junto com garrafas cheias pela metade de cerveja quente e suja. Chorou, chorou e chorou mais ainda, Madagascar, e ficamos por aqui na história.
E este último parágrafo, acima, não foi ela quem pediu, não faz parte da encomenda. Apenas tomei a liberdade de abrir-lhe os olhos.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

identiquei-me:::

"Por que, ora bolas, diabos, nada era como ela queria? Chorando, chorando, assentiu pra si mesma que não precisava realmente de tudo aquilo que desejava, além de um pouco de atenção. Pensou que não, não era necessário aparecer assim, daquele jeito, tão forte, correndo atrás de tudo pra conseguir o que queria."

gostei muito do texto comento melhor depois ao contrário de ontem, hoje, pouca inspiração!

quinta-feira, março 16, 2006 2:14:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

oi, tem coisa nova deslizando desta caneta?

quarta-feira, março 22, 2006 5:57:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

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quarta-feira, fevereiro 07, 2007 2:53:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

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sexta-feira, fevereiro 23, 2007 10:56:00 AM  

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