terça-feira, março 07, 2006

A multidão

Tem a multidão correndo para todos os lados, suas almas devastadas por guerras e mais guerras diárias. São galpões vazios, gigantes, tomados todos por um Rock velho e pesado que seus ouvidos não percebem.
Tem a multidão que tropeça em quse todos os pedregulhos, mesmo que uniformes, espalhados pelo caminho. São olhos vazios e cegos, que preferem seguir caminhos ditos e ditados.
Tem a multidão, aglomerada sempre num só canto, que é pra continuar gritando seus lamentos claustrofóbicos. São corpos insensíveis, mas o vazio arde-lhes a superfície da pele.
São peles absurdamente enrugadas, mas quem percebe? A multidão está sempre contra o relógio, sem sentir o tempo passar.
Tem a multidão, de quando em quando curiosa, procurando em círculos as novidades de cada vida. São como peixes na memória. São como bois nas engrenagens do engenho.
Tem a multidão em preces todas as manhãs e noites, suplicando sempre mais, muito mais. São ingênuos e fiéis. Tanto que pecam todas as tardes e madrugadas, que é pra poder orar mais, muito mais.
A multidão está sempre por aí, no início, no durante e no fim do expediente. Está sempre nos balcões dos botecos, nos churrascos, nos jogos de futebol e nas filas de atendimento dos consultórios médicos. Está ao lado para ajudar e puxar o tapete. A multidão não quer deixar de ser o que é, e está nas mesas de cozinha e nas salas de jantar em frente à TV. Às seis da tarde e às oito da manhã, quando o expediente permite, ela está em suas preces, como já foi dito, quando não sob as luzes do aparelho de TV na sala de jantar, pouco antes das refeições.
A multidão está sempre por aí, como também já foi dito, e é raro não encontrá-la ou não encontrar-se nela.
Mas, tem tanta coisa também... por que se preocupar com a multidão?