terça-feira, junho 27, 2006

Silêncio? Perfeito!


Isso aqui nunca esteve tão silencioso. Os únicos ruídos que escuto são o som que a brasa do cigarro faz ao ser tragada e os ecos de meus pensamentos. Além disso, um quase imperceptível baque, meio surdo, do meu coração, batendo minuto a minuto.
Alguns intrusos invadem o lugar, mas não chegam a atrapalhar o foco dos meus olhos, mirando o nada. Aquele ponto cego dos estados catatônicos.
O mundo mesmo, e tudo o que nele existe, não faz barulho suficiente para me roubar a atenção.
O tempo não passa. A fumaça do cigarro paira sobre minha cabeça, devagar.
Vão-se as horas, na verdade. Tudo permanece imóvel. Eu aqui, parado, perguntando "por quê?". E eu mesmo ainda tenho a bondade de responder um "porque é assim", já que vazio maior que este nunca houve.

Sim, um pequeno e velho Blues assim, pra contrastar com este ambiente soturno.

Velhos humanos, com seus medos e manias. E será que nunca vamos aprender? Uma hora a coisa toda enche... O compasso triste dessa música só ajuda a piorar, mas também ajuda a suportar. Tão lento quanto a fumaça que ainda vai ali, sabe-se lá pra onde. Perfeito! Se é pra viver na desgraça, que seja ao menos com uma trilha sonora agradável, dessas que nos roubam a energia de levantar. Pra quê? Assim está perfeito!

Já não ouço mais o ruído da brasa. Ouço, sim, o som dos goles descendo e o de uma goteira que cai do teto logo ali ao lado, tomando uma cadência triste e aparentemente interminável. São as gotas d´água e minha angústia de um lado e eu logo abaixo delas. E as horas vão, mas tudo permanece. Simplesmente permanece. E é assim mesmo que tudo está perfeito, pois perfeito é o que há de ser. Imperfeito são nossos sonhos, isso sim.

Alegrias... são tão tolas e ingênuas como crianças. E a nossa infância, vendemos-na por um preço barato. Somos tão tolos como as crianças, e, ainda assim, ofertamo-nos por um preço justo. Quem quiser mais que viva feliz, se puder.

Evidente, precisamos de algo mais. Sempre mais. Sempre mais. Ilusões quando crianças e entregamo-nos. Depois disso, somente um pouco mais de ilusão para oferecermos o triplo ou mais do preço pela chance de voltar atrás. Cansei disso. Fico parado onde estou. Com cigarros, algo para beber e nada de ilusão. Está bom demais. Perfeito!

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

BOM!

quinta-feira, junho 29, 2006 11:42:00 AM  
Blogger Alessandro said...

Ah... doces dias de tormento!

Abração!

quarta-feira, julho 05, 2006 1:11:00 PM  

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