quarta-feira, setembro 24, 2008

alone

terça-feira, setembro 23, 2008

Impreciso.


1 - Causa com ele, destrói; destrói primeiro o fígado dele.

2 - Mas o fígado não adianta, reconstrói-se fácil, viverá para sempre.

1 - Sim, mas não o mates tão cedo também.

2 - Não, viverá apenas o suficiente.

1 - O suficiente para quê?

2 - Para o necessário.

1 - Então deixa-o necessitado, impeça o que lhe for preciso.

2 - É matéria imprecisa, sei do que necessito, mas não calculo as contas do que possa lhe faltar.

1 - Ordena que o diga.

2 - Não dirá.

1 - Então arranca-lhe a língua.

2 - Assim não gritará a clemência.

1 - É de clemência que necessitas?

2 - Eu?

1 - Óbvio que é de tu que falo.

2 - Com a clemência esconder-me-á o que necessita.

1 - Então tira-lhe a demência, pois a consciência é mais honesta, concisa e, principalmente, necessitada.

2 - Tão honesta e concisa que contar-me-ia facilmente que carece, mais do que tudo, da própria demência.

1 - Então é isto, tira-lhe a demência, se saber de sua maior carência é o que desejas.

2 - Mas não desejo tratar de uma simples e pura consciência.

1 - Então, o que desejas?

2 - O suficiente.

1 - O suficiente que ele possa lhe dar, ou que tu possas querer dele?

2 - É impreciso.

1 - E o que é preciso?

2 - O equilíbrio.

1 - É coisa impossível em tal situação.

2 - Impossível?

1 - Sim, se é assim que queres, solte-lhe as amarras e a mordaça.

2 - Mas, desta forma, estaríamos em iguais condições, e vulnerável eu também às denúncias alheias.

1 - Se o que queres é o equilíbrio...

2 - È coisa impossível.

1 - Cala-lhe as denúncias!

2 - Não posso.

1 - Podes, é fácil.

2 - Não quero.

1 - O que queres, precisas?

2 - Sou impreciso.

1 - Então arranca-lhe as mãos e os pés, começando pelos dedos, e vais descobrindo aos poucos o que necessitas.

2 - E se depois dos dedos e dos pés e das mãos ainda não soubesse?

1 - Arrancar-lhe-ia os braços e as pernas.

2 - E se depois das pernas e dos braços ainda não soubesse?

1 - Sobrar-lhe-iam os dentes, as orelhas, os olhos e as narinas, uma coisa de cada vez.

2 - E se, depois de tudo isso, ainda assim não souber?

1 - Extraia-lhe cada órgão interno, um por um, até o coração.

2 - O coração eu não poderia.

1 - E por quê?

2 - É do que um homem é feito: coração, consciência e demência.

1 - Um homem já não é mais homem se tiver as mãos atadas e a boca amordaçada.

2 - Um homem será sempre um homem enquanto ainda for demência, consciência e coração juntos.

1 - Então terás o mesmo que agora tens, a diferença é que sem mãos para atar, sem boca para amordaçar e sem órgãos para estripar.

2 - Exatamente o que preciso.

1 - Precisas?

2 - Calculo, não sei se é preciso o cálculo.

1 - Estás em dúvidas?

2 - Talvez.

1 - Duvidas?

2 - Sei que estou.

1 - Então chegaste à mesma conclusão de sempre?

2 - Sim.

1 - Novamente?

2 - Não tenho como escapar, estou atado e amordaçado.

1 - E só depois de tanto tempo percebeste?

2 - Como sempre.

1 - E agora?

2 - Peço que solte-me destas amarras.

1 - Também estavas livre o tempo todo, mas não ousaste acreditar.

2 - Se estava preso e ao mesmo tempo estava livre, confundo-me entre empate, derrota e vitória neste embate, qual título nos é de direito?

1 - Como sempre dizes, é impreciso; talvez saibam aqueles três que estão atrás do espelho.

sexta-feira, setembro 19, 2008

Próximo Sarau dos Prophanos