segunda-feira, outubro 25, 2010

Difuso


Devagar o silêncio da noite vai embora e dá espaço ao som do dia, um som que não se escuta. Tardo em abrir os olhos, tentando conservar as imagens dos últimos pesadelos. Tentando consertar o que tinha dado errado e eliminar os demônios que apareciam. É impossível. Eram demônios, mas não eram pesadelos.

Pela difusa claridade que entra pela janela é possível adivinhar o azul pálido do céu de um dia frio. Procuro na atmosfera do quarto algum resquício de sono, mas há apenas cansaço, além do vazio. Seria coragem o que procurava, para me levantar?

Há tempos estou preso aqui. Minhas palavras morrem nas paredes, pois as vozes de corpos sem espírito não produzem eco algum. E também não ouço nada, tão surdo quanto as paredes. Concordamos, em silêncio, que o silêncio é o único acordo possível.

Antes do pé esquerdo tocar o chão da rua, os olhos se fecham novamente e o dia passa. Passa como se fosse uma breve eternidade, um broto que não cresce e não gera flores que nunca desabrochariam, um tempo que não conta. Só não passa como os pesadelos passam, deles podemos acordar e fugir dos demônios que aparecem. Durante o dia não. Somos nós os próprios demônios!


Ps.: Este texto é incompleto. Ainda não me lembro como terminam os sonhos.

segunda-feira, outubro 18, 2010

As lágrimas que caem da chuva.


1 - As lágrimas que caem da chuva.
2 - Não, não é isso.
1 - É isso sim. As lágrimas que caem da chuva.
2 - Não, não é!
1 - Claro que é isso.
2 - Não são lágrimas, são gotas.
1 - Gotas o quê?
2 - Que caem da chuva. São gotas que caem da chuva.
1 - É verdade, são gotas.
2 - Tá vendo?
1 - É que eu confundi meu rosto com o céu.
2 - Seu rosto é azul?
1 - Não, mas escorre tanta gota que parece chuva.