quarta-feira, março 17, 2010

De sorrisos inquietos e disfarçados.


Chora. Ela chora. Não sabe exatamente o motivo. Apenas chora, e sente que, sim, tem um belo motivo pra chorar tanto, embora não consiga esboçar nenhuma imediata razão para isso. Apenas chora.

Pensa. Ela pensa. Apenas pensa e tenta imaginar algo que explicasse aquelas lágrimas para imaginários amigos, amores ou estranhos que estivessem curiosos e preocupados com toda aquela água. Apenas sonha, enquanto chora.

Sabe. E ela sabe que não há razões e nem motivos que provoquem ou expliquem aquele balde, aquele mar, essas lágrimas. E, pena, também sabe que não há amigos, amores ou estranhos por perto, ninguém que queira entender ou enganar que compreende tudo aquilo. Ela está só.

Só. Ela está só. E pensa como é ridículo chorar quando se está só. Sabe que o choro é algo para se compartilhar. É necessário chorar junto, ou ao menos ter plateia. Sabe que o choro solitário é sinal de fraqueza ou desespero, que são coisas diferentes. A fraqueza logo passa, basta forçar alguma força e ela, o choro, a fraqueza, torna-se besteira. O desespero não. Esse desespero não!

Não. Esse desespero não vai embora. É como um coração batendo, como um piscar de olhos que sempre vem, mesmo quando não se quer, e, se não vem, arde. E ela ri disso. O riso é a reação mais intrigante provocada pelos desesperos.

Ri. Ri muito disso tudo, porque sabe que são coisas provisórias, que logo passam. Assim como olhos batendo ou corações piscando, passam, sempre passam. Sempre passam.

Sorri. Ela sorri. Não sabe exatamente o motivo. Apenas sorri, e sente que tem um belo motivo para sorrir tanto, embora não consiga, durante o sorriso, esboçar nenhuma imediata razão para isso. Apenas sorri, com um leve olhar amargurado de sabe-se lá o quê.